quarta-feira, 20 de março de 2013

Resenha - Macunaíma

Por Tainá Passos de Menezes
            
Trata-se de resenha crítica do livro "Macunaíma, o herói sem nenhum caráter" do escritor modernista Mário de Andrade. Lançado pela primeira vez em 1938, este livro representa bem a mudança artística que estava ocorrendo desde a Semana de Arte de 1922, quando foi mostrado pela 1ª vez ao público, um novo estilo, que mais tarde ficou conhecido como Modernismo.
            O livro foi muito festejado, pelos chamados modernistas, por refletir os ideais do movimento. Compreendia-se por um não apego as formas e a não idealização de um herói, fato que se opunha completamente a 1ª fase do romantismo (estilo anterior a que o modernismo vinha a se opor), chamada de nacionalismo/ufanismo.
            E realmente o que chama atenção no livro é o não apego às formas. O autor não parece preocupado em se fazer entender ou em tornar o livro polido, mas tenta retratar de forma fidedigna o modo de falar de uma tribo indígena e do interior do país. Desta forma, os regionalismos e neologismos estão sempre presentes, o que é um dos pontos negativos do livro, uma vez que faz com que a leitura fique pesada.
            Passando a uma análise da história, podemos entender porque Macunaíma fez tanto sucesso entre os artistas modernistas da época. É a história de um índio chamado Macunaíma que nasce "preto retinto e filho do medo da noite". Apesar de ser chamado de "herói da nossa gente", o personagem principal é na verdade o contrário de uma pessoa que poderia ser considerado, em condições normais, um herói. Preguiçoso, mentiroso, mulherengo e encrenqueiro (para falar o mínimo!), ele tem como seu bordão principal a frase "Ai que preguiça".
            E apesar de a primeira vista parecer estranho é exatamente esta crítica que Mário de Andrade vem fazer. Em oposição clara ao herói do período romancista-ufanista que era perfeito, com caráter exemplar, Macunaíma é um homem com mais defeitos do que qualidades, que mesmo assim é considerado herói.
            Retomando a história do livro, o herói tem uma mãe e 2 irmãos Maanape e Jiguê, os últimos serão os que mais sofrerão ao longo do livro com as traquinagens de Macunaíma. Jiguê logo no começo do livro ao escolher uma companheira, de nome Sofará, é traído por ela e pelo próprio irmão diversas vezes quando esta leva Macunaíma para passear no mato. Ele não demora a descobrir a traição e mandar a moça de volta para casa de seu pai.
Jiguê não fica sozinho e logo depois vai morar com outra moça chamada Iriqui. Como Macunaíma não perde tempo acaba traindo o irmão novamente. Jiguê, entretanto, não briga mais e deixa Iriqui para o irmão.
            A mãe de Macunaíma não se demora na história e acaba morrendo logo. O que faz com que os 4 saiam da tribo e vão vagar pelo Brasil. Iriqui acaba ficando pelo meio do caminho. É quando Macunaíma encontra Ci, a mãe do mato virgem, o grande amor do herói da história. Após se deitar com ela, Macunaíma vira o Imperador do Mato Virgem e vai morar com Ci no capão de Meu Bem na Venezuela. Lá eles moram em outra tribo onde Ci comandava as mulheres nas brigas.
A vida do herói é só alegria e preguiça. Eles chegam a ter um filho que é adorado por todos da tribo. Entretanto, a felicidade dura pouco e Ci morre envenenada por uma Cobra Preta, e o bebê ao tomar o leite da mãe acaba morrendo também.
Nesta parte temos o primeiro contato com uma característica muito forte no livro: as lendas. Ao morrer Ci sobe em um cipó e vai morar no céu, vira a estrela Beta da constelação de Centauro. No lugar onde o filho deles é enterrado nasce uma planta, o guaraná. Este tipo de história se repetirá por todo o livro e é um de seus pontos fortes.
Ci tinha um colar de Muiraquitã que antes de morrer deu para Macunaíma que fez deste um tememberá. Esta pedra é o que moverá toda a história.
Macunaíma cheio de tristeza decide ir embora com seus irmãos e voltam para o Brasil. No caminho encontram monstro Capei que após ser derrotado pelo herói vira a Lua. É durante este ocorrido que Macunaíma perde a Muiraquitã. Descobre depois que a pedra fora parar na barriga de uma tartaruga e que depois a pedra fora vendida a um peruano chamado Vencesleu Pietro Pietra que enriquecera e agora morava em São Paulo.
É assim que o herói decide ir com seus irmãos para São Paulo. No caminho ele encontra uma água mágica e ao se banhar fica branco e lindo, enquanto Jiguê continua negro e Manaape fica vermelho como índio. Nesta pequena parte do livro o autor faz uma pequena reflexão sobre as miscigenação do povo brasileiro apresentando os 3 principais povos a partir dos quais se formou a "nossa gente".
Ao chegarem a São Paulo, o herói se assusta com as máquinas e carros e acredita que os homens viraram maquinas também. É uma das criticas mais interessantes feitas por Mário de Andrade. Um índio que nunca teve contato com a cidade acaba enxergando que os que aqui vivem se tornaram tão dependentes das máquinas que já são elas.
Macunaíma vai atrás de Venceslau e descobre ser este o gigante Piamã comedor de gente. Ele tenta achar o muiraquitã, porém sem sucesso. Tem a ideia de se disfarçar de francesa para comprar a pedra, no entanto, Venceslau tem segundas intenções e acaba descobrindo que se trata do herói vestido com roupas de mulher.
Com raiva Macunaíma vai à macumba da Tia Ciata e durante o ritual tem seu pedido atendido de poder bater em alguém no terreiro e Venceslau sentir, mesmo estando em casa. O autor nesta parte detalha o ritual, o que é em minha opinião bem assustador, mas que serve totalmente ao propósito do livro ao descrever outra religião que não a Católica.
Macunaíma ainda acaba indo para o Rio de Janeiro, lá fala com Vei, a Sol que lhe propõem que ele se casa com uma de suas 3 filhas. O herói aceita, porém, mulherengo como é acaba achando outra mulher e depois tem que enfrentar a fúria da Sol e de suas filhas. É neste capítulo que ele cria outro bordão: "Pouca saúde e Muita saúva, os males do Brasil são!"
Macunaíma retorna à São Paulo e descobre que o gigante está doente depois da sova que o herói lhe deu. Ele então tenta se distrair com outras coisas e vai a um parque. Neste capítulo está presente outro diferencial do livro, a explicação para a formação de certas palavras. É o que acontece com a palavra "puíto", Macunaíma ao não saber como denominar "botoeira", utilizou a palavra "puíto" que acabou virando moda.
Uma das passagens mais engraçadas do livro acontece quando Macunaíma querendo se vingar de seus irmãos diz haver rastro de tapir no centro da cidade de São Paulo. Ocorre que vários transeuntes que passavam pelo local começam a procurar também. Quando o povo descobre estar sendo enganado querem agredir o herói e seus irmãos. No meio da confusão Macunaíma acaba sendo preso. O povo com pena se junta para que soltem o herói. No meio da confusão ele foge e volta para casa de Venceslau, onde acaba por ser caçado por sua mulher, Ceuci pelo Brasil a fora.
Esta é outra característica importante do livro, Mario de Andrade não parece se preocupar com as distâncias geográficas ou com fronteiras territoriais. Ele sempre descreve as confusões de Macunaíma por todos os cantos do Brasil. Creio que para falar de todas as regiões do país e suas peculiaridades.
O desfeixo da história quando depois de muitas outras situações inusitadas Macunaíma consegue o Muiraquitã, ocorre quando Venceslau que havia viajado para a Europa retorna de viagem. O herói vai até a casa dele e esperto não cai em sua arapuca para fazer dele molho de macarrão. Pelo contrário é Macunaíma quem engana o gigante e faz com que ele caia no molho de macarrão e morra, deixando o Muiraquitã finalmente para o herói.
Após esta vitória Macunaíma e os irmãos retornam a sua tribo, Uraricoera, onde tudo começou. O herói ainda encontra uma princesa no caminho a quem faz sua mulher. O resto são histórias e mais lendas.
No final da história Jiguê acaba contraindo uma doença que lhe torna uma sombra. Ele acaba por matar Manaape e a princesa. Macunaíma acaba fugindo. No entanto, sozinho acaba por ficar triste relembrando suas glórias do passado. Ao ir se banhar em um rio quase é comido pela Iara, no entanto, consegue escapar. Cansado da vida, machucado pelo ataque da Iara e sem uma perna o herói decide ir morar no céu e se torna a constelação da Ursa Maior.
A história é, assim, simples. Há um objetivo maior: a busca de Macunaíma pela pedra. No entanto, toda a história é permeada por pequenas aventuras do herói que tornam tudo mais interessante.
Estas histórias não fazem sentido separadas apenas podem ser analisadas em um contexto geral. Elas visam desconstruir a visão clássica de herói criada no romantismo. Pedem atenção ao fato de que os brasileiros não são perfeitos, mas que são cheios de defeitos e malandragens.
Devido à dificuldade linguística não considerei um bom livro. É difícil se adaptar aos regionalismos e neologismos. E até a história em si é confusa. Há que se fazer uma séria abstração para compreendê-la. Mas é válida sua leitura pela critica feita e pelo contexto histórico em que foi criada.

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