Macunaíma - O Herói Sem Nenhum Caráter

"Aliás, essa preguiça de Macunaíma é, acho eu, outro talento bem brasileiro. Preguiça como desgosto de fazer qualquer esforço que não dê gozo: e até mesmo os gozosos, por vezes." - Darcy Ribeiro

O Cálculo do Conflito: Estabilidade E Crise Na Política Brasileira

Uma interpretação da política brasileira. O foco empírico da investigação compreende um período turbulento da nossa história, cujo resultado foi o colapso das regras do jogo institucional democrático e o golpe militar de 1964.
Crédito da imagem: Marcelo Carnaval

O Governo João Goulart - As Lutas Sociais no Brasil 1961-1964

Balanço sócio político de um período de tensão. "mais do que detalhar fatos, livrando-os de deturpações, mostra-os em sua essência, interpreta-os em sua dinâmica econômica, social e política segundoo método dialético de análise".

1964 - A Conquista do Estado

Resultado de uma pesquisa realizada entre 1976 e 1980, sobre o período do Golpe de 64, o livro mostra o papel e a função das forças sociais, e de que formas concretas elas faziam prevalecer seus interesses sobre as demais. O autor documenta a relação entre atores e as forças sociais, em cenários públicos e privados, através da recomposição da história desta época. 1964 deve ser lido como a reconstituição de um passado que está presente na realidade atual, e determina, assim, os rumos de nosso futuro.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

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quarta-feira, 27 de março de 2013

Resenha de Macunaima

PUC-Rio - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Centro de Ciências Sociais (CCS) - Departamento de Direito

PETJUR  – Programa de Educação Tutorial                                20.03.2013

Maria Eduarda Vianna 1011467                                      Francisco Guimaraens

Macunaíma

 

 

 

 

Vamos à estória:

 

Noutro dia estava Mário de Andrade a debandar pelo Brasil de norte a sul, de leste a oeste, tomando notas sobre o costume de cada região. Noutro dia, matutava um tal de Antropofagismo, coisa muito estranha, que se ouvia lá pelas bandas do Tietê e que fazia muita gente perder o juízo – ou melhor, achá-lo. Troço esquisito essa moda de "deglutição cultural"... De início, o povo teve medo. Mas quando viu que esse negócio era uma poderosa arma pra vencer o gigante Piaimã, fez festa. Pois bem. O gigante Piaimã era monstro terrível, que ameaçava acabar com o povo tupiniquim se não fossem atendidos seus caprichos. Mas inda assim, o pai do herói não sucumbiu. Foi aí então que passadas algumas luas, matutou uma ideia pra lá de supimpa: pegou um pouco de tinta, a mais preta que existe, e fez nascer, no fundo do mato-virgem, Macunaíma, herói da nossa gente.

 

Macunaíma é uma obra desprenteciosamente rica. Sua grande virtude reside na multiplicidade de leituras que oferece ao receptor, de forma que cada pessoa, ao lê-la, vivencia uma experiência singular. Desse modo, são muitos os temas presentes no livro, implícita ou explicitamente trabalhados, a partir da subjetividade individual de cada leitor. Portanto, resenhá-lo implicaria, necessariamente em deixar de abarcar alguma questão, motivo pelo qual prefiro compartilhar minhas impressões pessoais.

Talvez, o ponto mais interessante seja a tentativa de explicar o Brasil a partir de uma história genuinamente brasileira, contada a partir da experiência de Mário Andrade em suas muitas viagens Brasil a dentro. A preocupação do autor em registrar costumes, explicar a origem de ditos populares e estereótipos, além de contar piadas, transcende uma análise minuciosa – é quase uma tara.

A escolha do protagonista é o símbolo máximo da consolidação do movimento denominado "Antropofagismo", engendrado no contexto da Semana de Arte Moderna, em 1922. Àquele tempo, as ideias, muito embora revolucionárias e vanguardistas, eram imaturas e prescindiam, por assim dizer, de calcificação. Macunaíma é a obra madura, síntese literária da pretensão de construir o Brasil a partir da própria história brasileira. Deglutição, portanto, não implica afastar elementos de estraneidade, mas, tal como o fenômeno fisiológico, alimentar-se de influências, digeri-las (o que significa dizer, filtrá-las) e produzir um novo produto, pintado de verde e amarelo.

Após décadas de exaltação do bom indígena, símbolo da pureza e da moralidade, O Modernismo propõe-se a romper brutalmente com o Romantismo, movimento ufanista do final do século XIX. Não mais faz sentido a reprodução do modelo europeu e a caracterização dos elementos nacionais a partir de uma perspectiva eurocêntrica. Sobre o tema, Eduardo Viveiros de Castro, ensina que a noção de "perspectiva", é, no fundo, não se colocar no lugar do outro a partir de si mesmo, mas a partir do outro; é uma experiência, inerentemente corporal.[1] Somente assim, enquanto outro corpo, daquele que se dedica a estudar, é que se pode conhecer. Em dizeres spinozanos, conhecer algo é conhecê-lo por sua essência, isto é, por sua causa próxima.[2] Por isso a personagem não tem culpa. Esse conceito não faz parte de sua experiência, muito menos de sua essência, o que justifica seu comportamento reprovado por grande parte dos leitores.

Dessa maneira, a máxima "o herói sem nenhum caráter" não implica, necessariamente, na dedução de um anti herói. Também o é. A expressão "sem nenhum caráter" deve ser lida, a contrário senso, de muitos caracteres, ou seja, em última análise, de várias facetas. Conjuga, em sua formação, uma multiplicidade de personalidades. Macunaíma é, em análise perfunctória, herói, bravo guerreiro, amante, príncipe lindo, preguiçoso, mentiroso, trapaceiro. É o brasileiro, aquele que não gosta de trabalhar (ainda que a afirmativa seja bastante polêmica...) e gosta de levantar vantagem. Macunaíma é Gita, de Raul Seixas: o tudo e o nada.[3]

Macunaíma é a mais clara antítese de um padrão comportamental europeu que se propaga. É a resistência tupiniquim, original; um grito de ruptura com os paradigmas importados. É, concomitantemente, a expressão e a expressividade da miscigenação brasileira.

Outro tema fundamental, sem o qual a obras jamais teria tamanha riqueza, é o folclore. Mario de Andrade se esforça em agregar, nem que seja em um suspiro, qualquer traço típico de alguma região brasileira. A história propõe-se a ser a antítese dos modelos de contos infantis adaptados por Walt Disney. Chega de príncipes, reinos encantados e fadas madrinhas. No lugar destes, entram os elementos naturais e os seres fantásticos que há muito são utilizados para explicar os fenômenos da natureza.

Chega de importar modelos pré fabricados e a partir deles promover, a todo custo, a catequese cega de brasileiros a descartar sua produção cultural. O Brasil é colorido e repleto de gostos, cheiros e sentidos. Por isso, o patente escopo é produzir um modelo de Brasil a partir do próprio país, sem a existência de modelo prévio. Esse é o ponto chave: o pioneirismo. Seja na cultura, seja na política, há que se romper com os paradigmas há muito superados. Engendra-se um novo Brasil, legitimamente brasileiro. Promove-se a reestruturação do sistema político-econômico-social, incentiva-se a cultura nacional.

Macunaíma é a expressão desse novo Brasil, cheio de potencialidades e perspectivas. Lê-lo significa desbravar a cultura brasileira e seus mitos populares, adentrar pelo mato fechado da floresta e, em mais duas palavras, parar nos pampas gaúchos. Isso mesmo. Esqueça as noções de tempo e espaço. Aqui, nada é impossível. Tem homens que são máquinas e máquinas que são homens, há cachoeiras que choram, gigantes comedores de gente. Aqui não tem certo ou errado, mas conveniente. Afinal, Herói? Ou anti herói?



[1] VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. Ed. COSACNAIFY.

[2] SPINOZA. Benedictus de. Ética.3ª ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.

[3] SEIXAS. Raul. Gita.Disponível em http://letras.mus.br/raul-seixas/48312/  às 23:55h do dia 26.03.2013.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Resenha de Macunaíma

"É negro, é branco é nissei, é verde, é índio peladão, é mameluco, é cafuzo, é confusão". Em uma só frase muitas etnias, em um pequeno grande livro muitos brasis. Dos índios do alto amazonas ao capitalista paulista "comedor de gente"; dos terreiros no Rio de Janeiro aos cantos mais interiores deste país. Quase alcançando a completude ao retratar de forma inovadora a nossa gente, Mário de Andrade, em sua obra prima, constitui de forma majestosa um olhar para o que é a Brasilidade. No passado, no presente e para o futuro.

Como um dos pioneiros do modernismo, não é difícil perceber que o autor faz reverência marcante ao movimento. Desapegado do formalismo e da linguagem rebuscada românticos, a escrita do livro apresenta um fluxo espaço temporal quase frenéticos. Aliás, se este também deve ser o ritmo da leitura, bem verdade que aos trôpegos diante de tantos regionalismos, neologismos e vocábulos indígenas, contraditória é a postura "dolce far niente" de Macunaíma. Imperador do mato virgem, herói de muitos e de nenhum caráter, é o marasmo personificado da gente brasileira.

Entre surtos esporádicos de ação consciente e premeditada, este herói vive embalado pelas próprias vontades. Mente sem saber porquê, "brinca" mesmo sem querer, dissimula, inventa motivos absurdos e faz qualquer um acreditar. Não faz por bem ou por mal, simplesmente faz. Filho do medo da noite, traz uma visão antropomorfista de todos os seres, sejam eles animados ou inanimados. Tudo e todos teriam a mesma essência, diferindo somente a forma com que cada indivíduo se materializaria, em vida e também após a morte.

Ao narrar a saga deste herói em busca de sua muiraquitã, uma espécie de amuleto místico e protetor, o autor concatena histórias, mitos, fatos, e as mais diversas características do povo brasileiro de forma magistral. Macunaíma ao rodar praticamente todo o Brasil, vivenciando muitas vezes episódios sem qualquer relação com a busca do dito amuleto, experimenta de tudo um pouco conforme seu bel prazer.

Através do herói e suas aventuras "a la Dom Quixote" podemos perceber melhor a nós mesmos. Seu olhar sobre a cidade grande provoca, inevitavelmente, reflexões sobre vida urbana e suas "necessidades". Se é bem verdade que o herói volta para sua terra, após conseguir reaver sua muiraquitã, não podemos dizer que ele era o mesmo ao voltar às margens Uriacoera. Sem ser somente negro, índio ou príncipe, Macumaína, como também é chamado, é único, mas ao mesmo tempo tudo isso, e todos nós.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Resenha - Macunaíma

Bruna Ponte

Mário de Andrade, um dos principais nomes do Modernismo, senão o mais representativo autor desse movimento iniciado no início do século XX, apresenta na obra "Macunaíma" as diferentes manifestações culturais que permeiam o povo brasileiro a partir do personagem central, o índio Macunaíma, e assim, com um estilo cômico e irônico de expor os feitos do herói, o autor fez com que a obra fosse de grande contribuição para o projeto de nacionalismo que almejavam os modernistas.

Fica claro ao longo da leitura o interesse do autor por diversas áreas de conhecimento e a aplicação de seu estudo no entendimento do Brasil e de questões sociais, políticas, econômicas e culturais do país naquele período, muitas delas ainda perceptíveis atualmente. Ele recheia a história de lendas populares, costumes regionais, modos de falar diferentes, e outros tipos de expressões culturais brasileiras. Além disso, ele descreve de forma notável como se dá o encontro dessas diversidades.

Na primeira parte da narrativa, Macunaíma é um índio negro nascido à margem do rio Uraricoera. Passa seus seis primeiros anos sem falar, e quando finalmente o faz, a expressão "ai, que preguiça" se torna sua fala mais marcante. O herói vive com a mãe, índia da tribo dos Tapanhumas, com a qual não possui uma relação tradicional de mãe e filho, e com os irmãos, Maanape e Jiguê. Para Macunaíma, não existe conceito de moralidade ou padrão de conduta baseado em princípios que deva ser seguido. Ele simplesmente age de acordo com seus instintos, como quando "brinca" com as mulheres do irmão. E o termo que o autor utiliza ao se referir ao ato sexual, "brincar", traduz a falta de malícia do personagem em relação à prática do ato.

Um evento marcante que muda os rumos da história é a morte da própria mãe pelo herói, que a confunde com um animal no momento da caça. Macunaíma e os irmãos, abalados pela perda, iniciam uma jornada juntos. Macunaíma se depara com CI, a Mãe do Mato, rainha das Icamiabas e a domina pelo uso da força, o que o transforma Imperador do Mato-Virgem. Ci  se torna a nova companheira dos irmãos e, em poucos meses, dá à luz a um filho do herói. Ci é mordida por uma cobra e a criança bebe o veneno do seio da mãe, e ambas falecem. Depois do enterro do menino, Ci entrega a Macunaíma uma muiraquitã, um amuleto, e sobe aos céus, por meio de um cipó. Ci se transforma na Beta de Centauro e seu filho, no guaraná.

Macunaíma e seus companheiros continuam a viagem sem rumo, até o momento em que têm de enfrentar a boiúna Capei, e na fuga, o herói perde o amuleto que herdou da amada Ci. Amparado pelo Negrinho do Pastoreiro, Macunaíma descobre que sua Muiraquitã está nas mãos de Venceslau Pietro Pietra, peruano, figura poderosa que reside em São Paulo. Os personagens, então, partem para a grande cidade à procura do amuleto. Um momento que não pode passar despercebido é a chegada dos irmãos a uma ilha, onde Macunaíma deixa sua consciência e encontra uma poça d'água encantada em que se banha, transformando-se em branco. Maanape, em seguida, entra na água e adquire um tom de pele mais claro, mas não branco. E por fim, Jiguê, que não consegue aproveitar quase nada da água encantada, fica apenas com as palmas das mãos e dos pés esbranquiçados.

Desde o início a obra é marcada por uma linguagem que é uma mistura das diferentes origens que compõem o povo brasileiro: indígena, africana e europeia. A princípio, a leitura pode parecer fatigante, pouco fluida, por conta do vocabulário "incomum" e dos muitos neologismos, adjetivos e expressões populares que o autor utiliza, mas logo é possível se adaptar à forma de escrita com que Mário de Andrade conseguiu romper com as correntes literárias que o antecederam.

Outro aspecto marcante o tempo todo durante a obra é a utilização de elementos fantasiosos, mágicos, místicos, que apresentam situações absurdas para explicar a realidade. É o caso das transformações dos seres que "morrem", como ocorre com Ci, com o filho da Mãe do Mato e do herói, e com a Boiúna, que ganham outros significados na história. Cada situação aparentemente ilógica, mostrando a influência do surrealismo, tem um porquê, na obra de Mário de Andrade. Um exemplo mais claro disso é a mudança de cor de Macunaíma e dos irmãos quando têm contado com a poça d'água. Ali o autor insere as três origens brasileiras, o branco, o negro e o índio.

A segunda parte da história narra a chegada dos irmãos a São Paulo, momento em que o autor evidencia o contraste de culturas que convivem no mesmo país. Macunaíma descobre que a moeda que vale naquela cidade grande não é o cacau, como na sua terra. O herói fica contrariado ao descobrir que precisa "trabucar" para sobreviver. Sua principal surpresa eram as máquinas-bicho. Máquina-roupa, máquina-bonde, máquina-telefone, máquina-jornal e todo aquele universo-máquina do centro urbano que o personagem não consegue compreender se é dominado pelos seres humanos ou se estes são dominados por aquele. O leitor é guiado a enxergar aquela situação através dos olhos de Macunaíma, como se realizasse um exercício antropológico de ver o que é familiar como diferente. É o momento em que a história apresenta críticas sociais, políticas e econômicas mais contundentes, mostrando como o país é desigual, não apenas rico em culturas diversas.

Um capítulo que merece destaque é o das "Cartas pras icamiabas", em que o autor critica a tentativa de impor ao brasileiro a linguagem erudita que os antecessores do modernismo empregavam. No capítulo, Macunaíma escreve, através de uma falsa e cômica linguagem erudita, para as guerreiras amazonas um relato de sua vida na nova cidade, e por meio desse relato, Mario de Andrade insere questões sérias da sociedade brasileira, inclusive sócio-econômicas. O personagem fala as sua dificuldade em entender o motivo de o povo do centro urbano falar em uma língua e escrever em outra. Macunaíma revela na carta sua nova compreensão do país em que vive, quando afirma que "Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são", afirmação que ele repete outras vezes no texto.

O poderoso Venceslau Pietro Pietra é introduzido como o Gigante Piamã comedor de gente. Ele assume na narrativa o papel do estrangeiro explorador do Brasil, aquele que rouba as pedras preciosas do povos nativos, no caso, o muiraquitã do índio Macunaíma. O ponto central da história é a recuperação do muiraquitã que está com o gigante. Macunaíma faz várias tentativas para recuperar seu amuleto que ganhou da amada Ci, e chega a se envolver em ritual de macumba, no qual com a ajuda de Exu consegue enfraquecer seu inimigo. Porém, o herói só recupera seu Muiraquitã tempos depois, quando finalmente consegue enganar o gigante e matá-lo.

No retorno para casa, Macunaíma é surpreendido com a morte de seus irmãos, e passa a viver triste e solitário, contando suas histórias a um papagaio. Num dia quente, quando o herói resolve mergulhar na lagoa, é atacado por piranhas que lhe tomam sua muiraquitã. Perdendo o gosto pela vida, o personagem então planta um cipó, que o leva ao céu, onde ele se transforma na Constelação da Ursa Maior. Um homem, um dia, chega à terra de Macunaíma, e o papagaio companheiro do herói o confidencia as aventuras vividas pelo índio. Este homem é Mário de Andrade, o intermediário que reconta a história que ouviu.

Muitos admitem que Macunaíma seja o símbolo do modo de ser brasileiro, que, presumidamente, seria aquele que tem preguiça, que vive sonhando, que não perde o gosto pelas mulheres. Mas o autor mostra na obra como é impossível classificar apenas um modo de ser que representasse toda a cultura nacional. Macunaíma seria o fundador da cultura brasileira, representante do povo brasileiro, que não tem caráter definido. Ele cria o futebol, o truco e expressões populares. A história aborda ainda o sincretismo religioso, também bastante arraigado na cultura brasileira. De fato, a obra carrega uma carga nacional muito forte, de forma que apenas entendendo minimamente a(s) língua(s) e a(s) cultura(s) brasileiras é possível compreender a história.

Outra questão presente em Macunaíma é a representação dos brasileiros como povo sem nenhum caráter. Não existiria para o brasileiro a noção de caráter, portanto, não se trata de aplicar juízo de valor às suas atitudes, classificando-as como boas ou más. O Brasil teve um desenvolvimento peculiar e seu povo não pôde desenvolver uma personalidade definida, por não pertencer a uma civilização própria, com consciência tradicional. E, assim, da forma como surgiu e se constituiu, o brasileiro é apresentado por Mário de Andrade no movimento do modernismo, criando uma oposição à visão do indianismo romântico, que não condizia com a realidade.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Resenha - Macunaíma

Por Mariana Taufie

     Macunaíma é uma obra que se destaca por retratar a população brasileira de uma forma diferente e nunca antes apresentada. Se constroi um personagem que é marcado pela preguiça, pela inocência e pela mentira. Essas diversas características se unem em Macunaíma, mostrando que a população brasileira não é exatamente aquela retratada pelo romantismo, ou imposta pela cultura europeia. O brasileiro apresenta características próprias, únicas, que merecem destaque na literatura. O livro consegue retratar um pouco do país em que vivemos, mostrando que uma das características mais marcantes de nossa população é a alegria.

     Começando pela análise do título, podemos entender que Macunaíma não seria um heroi  como os herois retratados pelas grandes histórias mitológicas, mas sim um heroi que aparece nas histórias indígenas, um heroi ingênuo e esperto. O fato de não ter caráter significa que Macunaíma não tem um modelo prévio, ele não é marcado pelo sentimento de culpa. O heroi Macunaíma possui diversos características, e não só uma.

     A obra nos faz ver outros modos de pensar, outras formas de se relacionar com a natureza e, principalmente, ela nos mostra como a população brasileira é miscigenada, como em um só país convivem diversos modos de vida, diversos costumes e tradições. Além disso, são relatadas visões folclóricas que existem em algumas regiões do Brasil, o que enriquece ainda mais a obra. Com toda essa diversidade, a obra mostra que, no fundo, todos pertencem ao Brasil, não importando a região ou o vocabulário utilizado. 

     Macunaíma contrasta com o índio fantasiado pelo romantismo, que era idealizado e não apresentava as características tipicamente indígenas. No livro de Mário de Andrade, o índio se aproxima mais do que conhecemos, se aproxima do que seria o brasileiro.

     A obra chama atenção, logo em um primeiro momento, para a linguagem utilizada. As frases possuem um ritmo, lembrando muito a linguagem falada. Nas primeiras páginas, o vocabulário usado causa estranhamento, mas ao longo do livro o leitor vai se adaptando. Isso nos faz perceber como o nome dado a um objeto pode não ser tão importante para entender o que está acontecendo. Na maioria das vezes, o contexto traduz o que as palavras designam. O vocabulário utilizado no livro também mostra como a cultura brasileira é rica, como existem diversas expressões e nomes que não conhecemos quando vivemos nos grandes centros urbanos, desmistificando a ideia de que o conhecimento existente nas cidades seria mais rico e mais completo, e nos mostrando que toda região tem suas características positivas.

     Uma das características observadas ao longo do livro é a de ausência de vírgulas em muitas enumerações, o que cria um ritmo diferente e que influencia a forma de ler a obra.

     No primeiro capítulo do livro, é retratado o nascimento de Macunaíma e a sua infância. Nesse início, já são mostradas algumas de suas características mais marcantes, como a preguiça.

     No segundo capítulo, a mãe de Macunaíma o deixa sozinho no mato, como um castigo pelo seu comportamento. Depois disso, o heroi encontra o Currupira, que passa a segui-lo até que Macunaíma consegue fugir e volta para onde estava sua mãe e seus companheiros Jiguê e Maanape. Logo depois a mãe de Macunaíma morre e eles partem daquele lugar.

     Macunaíma encontra Ci, chamada de Mãe do Mato, enquanto no filme, Ci é retratada como uma guerreira urbana. Antes de morrer, Ci entrega  a pedra muiraquitã para Macunaíma. Este a perde na praia do rio e depois descobre que ela foi vendida para Venceslau Pietro Pietra, que morava em São Paulo. Com isso, Macunaíma, Jiguê e Maanape resolvem ir até lá.  Venceslau é o estrangeiro que chega ao Brasil e consegue a pedra valiosa, é o estrangeiro contra quem Macunaíma tem que lutar para retomar o que é seu.

    Uma das cenas mais interessantes do livro é a de quando Macunaíma chega à São Paulo e fica observando como tudo funciona, como as pessoas se comportam e o que fazem:

 

          Os tamanduás os boitatás as inajás de curuatás de fumo, em vez eram caminhões bondes autobondes        anúncios-luminosos relógios faróis rádios motocicletas telefones gorjetas postes chaminés...Eram máquinas e tudo na cidade era só máquina! O heroi aprendendo calado. De vez em quando estremecia. Voltava a ficar imóvel escutando assuntando maquinando numa cisma assombrada. (ANDRADE, p.39)

 

     O livro retrata também a cena em que Macunaíma está no centro da cidade de São Paulo e fala que viu um rastro de tapir. Todos se mobilizam para procurá-lo, mas logo depois Macunaíma fala que mentiu. Essa parte do livro é umas das muitas em que é mostrado o fato de não sentir culpa, como já explicado.

     No livro, Macunaíma vai até a casa de Venceslau no dia da macarronada, este cai nela e morre. Com isso, Macunaíma pega o muiraquitã de volta. Ao longo de todo o livro, percebemos a ausência da morte como conhecemos, os personagens se transformam em vez de morrer, como acontece com Ci. Mas a cena da festa mostra uma diferença em relação à morte, pois Venceslau, ao cair na macarronada, acaba morrendo, e não se transformando como os outros personagens.

     Depois de recuperar a pedra, Macunaíma, Jiguê e Manaape deixam São Paulo. Eles partem levando objetos que tinham chamado atenção deles, como um relógio. A cena mostra como a tecnologia fica descaracterizada e sem utilidade quando está fora do lugar para qual ela foi pensada:

 

          "Estavam ali com ele o revólver Smith-Wesson o relógio Pathek e o casal de galinha Legorne. Do revólver e do relógio Macunaíma fizera os brincos das orelhas e trazia na mão uma gaiola com o galo e a galinha" (ANDRADE, p. 127)

 

     Ao voltar para sua terra, Macunaíma já não é mais o mesmo, ele fica sozinho e deixa o lugar onde morava.

     A deusa do Sol, Vei, que tinha oferecido uma de suas filhas à Macunaíma, quando este esteve no Rio de Janeiro, tinha pedido que ele não fosse atrás de mais ninguém, mas Macunaíma descumpriu e Vei resolve se vingar. Para isso, Vei faz com que Macunaíma sinta calor e entre na lagoa, ao entrar, ele vê Uiara e vai até ela, com isso, ele é mordido e vai perdendo partes do seu corpo. Macunaíma vai para o céu, se transformando em Ursa Maior.